sexta-feira, 26 de outubro de 2012

recado negro

Sob o amor e o prazer existente no corpo de uma mulata há também o toque, a pele, a alma e um pouco de sangue.
Para toda donzela recatada de familia nobre e conservadora habita uma preta que com ância de liberdade é novamente aprisionada por aqueles que a observam com respeito e devoção. Quem tem rasgos e feridas nas costas e no coração para que merece ou precisa de pudor? Menina moça cresce toda moribunda para que? Para que o marido a traia com a primeira mulata que estiver na cozinha preparando o dendê? Já dizia Dona Custódia, uma senhora que de tanto apanhar ficou sega "preta que nasce na senzala, lá morre", mas eu quero é mais, quero me enrrolar em lençóes finos enquanto esposas cuidam de suas crias e de sua educação, e se me perguntam se tenho medo apenas respondo que medo foi ver meu avô apanhando de chicote até a morte por querer uma liberdade, uma misera liberdade que nunca seria sua, nunca seria nossa.
Até hoje somos aprisionados, aprisionados por nossa pele, pelos olhos de quem nos observam, nosso cabelo não nos deixam esquecer o que aconteceu com nossa pele nos dias claros de sol-a-sol onde o Sol chorava.
Já nos lembravam os moços do café que branco é branco, homem preto é lixo, xorume, restos do céu, que por ter muita fé ganhou de presente o perimbal para que o mulato forte que ginga nas noites de cenzala vazia não perdesse o rebolado.

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